Café: vilão ou mocinho na rotina do paciente?
- Nutricionista Patricia Florêncio
- 18 de dez. de 2021
- 3 min de leitura

O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo e o Brasil ocupa o 2° lugar nesse ranking: apenas em 2018, o consumo interno no país ultrapassou mil toneladas. Há diversas razões para essa bebida ser tão popular: para a maioria dos apreciadores, o consumo está associado ao prazer, a aspectos familiares, ao foco no trabalho e, principalmente, ao hábito.
Segundo a ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café há um crescimento da busca por cafés em grão torrado, com maior qualidade em termos nutricionais e sensoriais. Além disso, a preferência por expressos, bem como a procura por máquinas automáticas e domésticas de café, promoveu uma elevação no total das vendas em grão, que passou de 18% para 19%. Ainda, ressalta-se o uso de café em cápsulas, que parece ter acelerado mais, causando uma mudança de hábitos dos consumidores, que escolhem esse tipo por conta da praticidade e variedade de sabores.
Compostos bioativos e propriedades nutricionais do café
O café possui uma composição complexa, sendo que um dos seus principais componentes é a cafeína (1,3,7-trimetilxantina). Mas também apresenta importantes compostos fenólicos e nutrientes, como ácidos clorogênicos (cafeoilquínicos, dicafeoilquínicos, feruloilquínicos e p-cumaroilquínicos), diterpenos (cafestol e kahweol), metilxantinas (teobromina e teofilina), ácido nicotínico (vitamina B3) e trigonelina.
Benefícios e riscos associados ao seu consumo
Ao longo dos últimos anos, os benefícios do café e seus compostos têm sido amplamente estudados. Estudos mais antigos apontam associações entre o consumo da bebida com risco para infarto agudo do miocárdio (IAM), elevação da pressão arterial e do colesterol sérico. No entanto, a literatura atual tem demonstrado resultados diferentes destes anteriores, especialmente ao considerar um consumo moderado da bebida.
Pensando no seu perfil nutricional e de fitoativos, os ácidos clorogênicos são conhecidos por atuar de forma importante da expressão enzimática no metabolismo antioxidante. A trigonelina é um alcaloide com potencial neuroprotetor e hipoglicemiante. A cafeína é o composto que possui atividade estimulante, eleva os níveis de dopamina e induz à atividade lipolítica e termogênica. Já os diterpenos têm sido associados com alterações no metabolismo de lipídeos.
Uma recente revisão sistemática (DANESCHVAR et al., 2020) avaliou estudos que associaram o impacto do consumo da bebida a marcadores bioquímicos importantes, como LDL colesterol e apolipoproteína B. Apesar de vários estudos demonstrarem uma relação inversa entre o consumo e risco para doença cardiovascular, essa revisão apontou que não é possível estabelecer uma relação de causa entre o perfil antioxidante da bebida e a redução da mortalidade entre aqueles que a consomem.
Avaliando o consumo da bebida com o risco para hipertensão, uma meta-análise concluiu que o consumo está inversamente associado com o risco de hipertensão em uma forma dose-resposta. Em concordância com os autores, é importante lembrar que genética, tabagismo, consumo de álcool, padrão alimentar e outros fatores podem modificar os efeitos da ingestão de café sobre a hipertensão.
Mais recentemente, o consumo de café tem sido associado à prevenção de doenças neurodegenerativas, como a de Parkinson. O principal mecanismo de ação estudado é o da cafeína como antagonista do receptor A2A de adenosina, mas os autores reforçam que futuras análises são necessárias.
Afinal, o café é benéfico ou não?
Por ser uma bebida consumida em diferentes contextos, avaliar o impacto do café de forma isolada é uma premissa complexa, pois o hábito está associado a vieses como o tabagismo, estresse, ou o uso excessivo de açúcar e adoçantes. Sendo assim, o que prevalece como evidência é que o café é uma fonte importante de antioxidantes para a dieta e o seu consumo moderado – até 3 xícaras/dia ou 300 ml/dia – pode ser realizado sem apresentar riscos para a saúde.
Fonte: E4 Nutrition
REFERÊNCIAS
ARRUDA, A. C. et al. Justificativas e motivações do consumo e não consumo de café. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 29, n. 4, p. 754-763, 2009.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DO CAFÉ (ABIC). Estatísticas. Indicadores da indústria do café no Brasil em 2018.
CARNAUBA, R. A. et al. Estimated dietary polyphenol intake and major food sources of Brazilian population. British Journal of Nutrition, p. 1-23, 2020.
LIMA, F. A. et al. Café e saúde humana: um enfoque nas substâncias presentes na bebida relacionadas às doenças cardiovasculares. Revista de Nutrição, v. 23, n. 6, p. 1063-1073 2010.
HONG, C. T. et al. The Effect of Caffeine on the Risk and Progression of Parkinson’s Disease: A Meta-Analysis. Nutrients, v. 12, n. 6, p. 1-12 2020.
DANESCHVAR, H. L. et al. Impact of coffee consumption on physiological markers of cardiovascular risk: a systematic review. The American journal of medicine, v. 20, 2020.
XIE, C. et al. Coffee consumption and risk of hypertension: a systematic review and dose-response meta-analysis of cohort studies.Journal of human hypertension, v. 32, n. 2, 2018.
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